quarta-feira, 4 de novembro de 2009

a lastimável impossibilidade da escapada.

Justamente hoje me dei conta da mais besta das coisas do mundo: uma pessoa só pode ser ela mesma. Fiquei e estou ainda, estupefeita. Aborrecimento desta largura eu não esperava encontrar em um fim de tarde de verão, sempre os fins de tarde de verão tão enfurnados em seus próprios atributos. E agora isso.
Vou morrer de tédio. Morrer a gente pode, morrer é pequenininho. Morrer é só deixar de ser. E viver (deixar ser, eu acho) é ser, até morrer, a gente mesmo.
Deus sabe como eu daria uma boa mosca, justa e discreta e absolutamente preta. Mas serei Nataly até ser coisa nenhuma: sou, eu mesma, meu fardo eterno. E posso ser (dentro de um escopo tão diminuído) o que eu quiser, aonde eu quiser, quando eu quiser. Mas serei, sem remédio, sempre eu querendo o que quer Nataly, e não o que quer uma cabra, uma vela, um prato de sopa, uma caixa.
Virei um peso (que sou eu, e não outra coisa). Entre uma ou outra das coisinhas que a gente pode ser, está: ser mais pesado ou mais leve. Haverá dias leves e dias pesados. Mas logo da descoberta que somos o que somos até deixarmos de sermos, ficamos pesando algo na casa das toneladas.
Me afogo no enfado enfinito. Eu que só queria ser uma mosca, em uma folha de papel. Eu que só queria ser o que são juntas a mosca sobre a folha de papel. A mosca sobre a tinta sobre a folha de papel. Se ao menos se recortasse o mundo diferente, e eu pudesse ser conjunto. Já que fatalmente fui eu, sou eu e sempre sempre eu, que pudesse ser, ao menos, acompanhada. Que eu fosse, no contato com o chão, a mesma coisa que o chão, e sentisse a pisada de outrem, delicada, apressada, firme, cambaleante. Aceitaria a condição de eu mesma tornar-me pisada. Ou do contrário: eu sou meu braço e só o meu braço. Unicamente e por essência, braçal.
Um mosca não deve nunca cansar de existir. Um mosca deve pensar que seria muito bem a mesma mosca por mais duas, ou três vidas. A mosca tolinha, que nem pensa, só vive.
E das minhas criações, todas tão impregnadas de mim, viciadas e repetidas, mais esta.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O cinza de todas as coisas


Chovia, mais uma vez. Daqui a pouco não é mais necessário avisar. Chove sempre. Hoje (chove) andei (chove) pela rua (chove). Quando andei e quando escrevo (chove). As palavras são chuva fina e é preciso uma miríade delas pra de fato se molhar. Se o que se quer é se molhar, porque não raro encontro um e outro que escolhe passa-tempo alternativo: esperar passar. Mas há uma verdade que estilhaça: a gente nunca só espera passar. Chove na espera como chove na rua em que andei, e hoje, e sempre.
Então o que temos é que chovia (e que choveu, e que chove), o que não confere nada de extraordinário ao que pretendo relatar, já que, conforme subescrito, só o que esse céu faz é chover (ontem, e hoje, e sempre). (E aqui). Chovia, mas não só chovia como também era fim de julho. Eis que algo finalmente, porque, hão de concordar, nem sempre é fim de julho. Consigo vislumbrar até começos de julhos, se forçar um pouco. E sei que existem meses que não são julho, mas anda difícil acreditar em outros tempos que não esses.
Aprendi jovem: nem tudo precisa de tempo e espaço. Essas minhas coisas precisam, por exemplo, só de tempo. Onde chove e é quase outro mês. Se esse fim salvaguardasse embaixo do braço uma promessa! Mas acho que é só fim mesmo, e o começo só começa quando começa.
(Um sobressalto de lucidez manifesto em parágrafo próximo:)
"Peremptório" e "Peripatético" são verdadeiras enxurradas. Queiram me desculpar. A errata: Palavras não são sempre chuvas finas. São todas tempestades em pontencial. Corre a boca pequena, nada assim oficial, de que algumas até ventam. Se pedirem, não fui eu quem falei. Segredo nosso.
Essa chuva esvazia, não esvazia? Se não fizesse tanto frio nessa cidade. Vejo os rostos na rua e sei que compartilhamos algo desolador: fomos todos obrigados a ver o cinza de todas as coisas. E ao ver o cinza, às vezes é melhor fechar os olhos. Não condeno.
Ao fim e ao cabo, fico com nada. E vos deixo com nada. A "coisa" que eu prentendia relatar não precisa de espaço, e agora enxergo: nem mesmo a própria coisa é necessária. Só precisava de tempo. Só era tempo.
Chove, ainda.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Dorzinha

Não sei o que tem atrás do arco-íris porque não fui ver. Há dias em que dá vontade de descobrir, mas em outros, e este é um destes, dá vontade de sentar. Dá vontade de dizer ao tempo que tome férias de ser tempo, que não me faça sair de casa quando aqui está quente e tem gente em volta rindo e fazendo café.
Tem dias, vocês precisam ver, como sou corajosa. Mas hoje, eu tenho medo e preguiça. Acho que poderia ficar bordando enquanto os outros vivem. Vão lá vocês, vivam e voltem pra contar.
Agora conto vinte e um e nesse tempo todo tentei escapar às angústias da idade. Não conheço algo nesse mundo mais passível de aguda cafonice do que sofrer as angústias da idade. Do que tornar crise os primeiros issos e aquilos enquanto todo mundo em volta tá fazendo parecido.
Mas dessa vez, não sei não. Me pegaram pelo pé, e agora já teem o corpo inteiro.
Se essa música não me rasgasse o coração, seria mais fácil. E é fácil pra alguém? E eu que só tenho vinte e um. E eu que nunca mandei um cartão postal.
Tenho seis meses. E depois sou alguma coisa. Mas que farsa essa independência, quando eu comprei ninguém me disse que doia.
Cuido da dorzinha, espero passar.
Para vocês, um beijo e um abraço.
[a música: who's loving you, jackson's five]

domingo, 5 de julho de 2009

as horas

Avisem a quem puderem: já é passada a hora da estrela. Mas por favor, não anotem o novo horário oficial. Aviso, porque se os conheço, são bem capazes de despautérios desta ordem.
O novo horário exige não ser anotado. A partir de agora é hora de não saber que horas são. Não por arbítrio, não confundam, eu gosto de saber de tudo. É assim porque é assim, porque não sei, e só.
Ah, se eu tivesse energia e vontade, saibam vocês que este texto teria novo começo. "Hora de não saber que horas são" não lhes parece que tento encorajá-los a livrarem-se dos grilhões do cotidiano? Tenho lá minhas cretinices, mas acho que disso não seria capaz. Eu só não sei que hora é agora, a hora de quem.
De qualquer jeito, é uma hora das melhores. É uma hora maçã, colcha de retalho, quarto escuro com música boa. Vocês sabem como são as horas maçã, colcha de retalhos, quarto escuro com música boa: cheias de minutos, e segundos e quartos de hora. E mais ainda, cheias de contento em serem horas. Essas horas que não querem ser dias, semanas, séculos. E em uma hora dessas, não sei se vivo ou assisto. Assisto enquanto vivo, e o presente vira saudade enquanto é presente. São e não são senhoras.
Só precisamente nessa hora me dou conta de que preciso horas dessas, hora ou outra.
E virão outras horas. Mas imagino que já perceberam que nem todas merecem ser nome de alguma coisa.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vontade

Eu poderia e deveria dobrar as roupas que tirei do varal. Mas não o faço porque sempre me perco no meio do caminho, e o meio do caminho é aquele cheiro bom que as roupas tem. Enfio a cara no jeans se preciso for, só pra sentir o cheiro bom que as roupas tem. E por conta dessa minha perdição, também não durmo de cabelo molhado. Se por descuido essa situação se desenha, é já um dia perdido. Passarei o tempo que puder e um tantinho do que não puder, com a cabeça enfiada no travesseiro, porque sou de carne e osso e gosto de shampoo.
Enquanto isso, mantenho a montanha de roupas limpas a uma distância segura de mim.
Há tantas coisas por serem feitas, no mundo e nessa casa. Nada me interessa, assim, agora. E se escrevo me saboto, porque nem queria escrever tanto assim, mas escrevendo me autorizo a não fazer o que me espera para ser feito.
Devo ser esse tipo: o tipo que livra os ombros de fazer o que o mundo precisa que seja feito. E há tanta gente por aí carregando o peso invisível. São bonitos e corajosos. Mas deus sabe como a promessa da prerrogativa do erro é sedutora.
Não podendo ser os braços, ou as pernas, ou os olhos: quero ser a fita de cabelo do mundo. E não me deixe enganá-los, porque há sim, nisso tudo, um pouco de covardia e vaidade. E de cheiro de roupa recém tirada do varal.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Status Quo

Acho que no verão a gente não precisa um do outro, e deve ser por isso que só agora me dei conta de como parecem solitários aqueles dois grampos no varal. Se esse vento conseguisse com que um delizasse pra mais perto do outro, ou que cada um deslizasse sua parte, pra que pelo menos fossem sozinhos juntos, se assim persistissem suas naturezas, juro que não peço mais nada.
Faz frio e eles já estão velhos.

Ando com a séria suspeita de que eu seja feliz. O vendaval lá fora vira as coisas de cabeça pra baixo, leva para onde quer o que se deixa levar, e eu não poderia estar mais satisfeita em estar dentro e parada. Ficar parado é bom também, a gente não se perde por aí.

Sabem a respeito de quê também estou plena? A respeito da quantidade de feriados que temos em um ano. Acho que nem de mais, nem de menos. Para mim está okay. Hoje, por exemplo, é feriado, e não me atormento com isso, assim como também não me atormenta a constatação de que os outros seis dias da semana não foram/serão feriados. Mas e não era isso que eu dizia? Nesse momento da vida não preciso dar uma desbaratinada.


Uou uou iei iei, sem você não viverei.
Enquanto isso anoitece.


Tenham vocês a noite das suas vidas. Percam o juízo, as calças, desbaratinem se for o caso.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A Ordem do Dia

-Me diz: E existe escritor diletante? O rabo do meu olho pergunta.
-Deve existir, sim senhor. Tem de tudo nesse mundo.
Mas,
Informo a todos os presentes e futuros, que a partir de hoje integro resoluta a galera do Bandeira. "A poesia é um exercício diário". Oras, tu, passarinho, mais certo não poderia estar.
O que eu escrevo não se escreve, mas apostem dessa vez: um texto por dia. No mínimo, três por semana. Menos que isso, apresentar atestado médico na cordenação.

Sabe o que é mais fantástico e super-ultra-mega-legal e sensacional nessa história de escrever umas e outras? É que as pessoas lêem. E depois falam comigo: "li você". Ou me escrevem e eu me cobro: leio elas. Escrever tem me trazido pessoas e eu gosto de gentes em geral. Então vou pedir de novo, que eu sou atrevida mesmo: me digam quem são. Tá aí, en passant, coloque seu nome e diga a cidade de onde está falando. É só o que peço. Eu poderia estar matando e/ou roubando.

Até amanhã. AMANHÃ.

(Amanhã, ou depois de amanhã, prometo: não vou escrever sobre escrever. Tem tanta coisa no mundo, né? Amo-as menos, mas promessa é promessa)

domingo, 31 de maio de 2009

do you have to, do you have to let it linger?

No fim das contas, eu sempre volto. Às vezes eu volto com sono, ou entediada, ou de pijama. Hoje é uma daquelas vezes que eu volto assim: no dia depois de um casamento. Se vocês soubessem como está difícil achar uma musiquinha que me apraz nesse computador, não me olhariam desse jeito. Já sei: este é um daqueles retornos ouvindo trilha sonora de novela que passa depois do video show. Eu nem sei se vale a pena ouvir de novo, mas e eu sou lá o tipo de pessoa que pensa muito se as coisas valem ou não a pena? Que pena, enfim? Nem dói, nem coça, nem dá bolinha embaixo do braço. Me veio uma idéia. Queria de algum jeito escrever "petulante" nesse parágrafo, como eles fazem nas novelas. "Ora, mas é muita petulância!". O que acontece, é que acho que não posso. Não cai bem falar "petulância" quem tem um nome só. Um pedido: Petulantes do Brasil, se aproximem de mim. Se eu nunca conhecer um petulante a me petulantear o tempo tudo, nunca vou poder dizer a ninguém o quão insuportavelmente petulante ele está sendo, ou acabou de ser, ou insiste em ser.
Ai, o assunto me chateou. Voltamos daqui a uma linha, e com ela segue novo tópico.

Alô, alô! Almocei tudo que tinha direito e mais um pouco, e tô morrendo de fome. Se não for lombriga, com certeza é coisa do psicológico. Acho que talvez seja a temperatura, com esse frio só dá vontade de comer tudo o que é sólido e bem temperado. Suco de melancia batido no liquidificador com hortelã, meu bem, nem aqui nesse mundo nem no outro. É que também não é qualquer frio, aqui em Capinzal a coisa pega mesmo.
Quanta música do Pink Floyd nesse computador, Jesus. São boas essas músicas da minha juventude. Vou ficar aqui só ouvindo.

Ai, ô, e eu que acabei o meu projeto de TCC? Ninguém sabe o duro que dei. Gente, o Simonal? Era bunito que só. Se me desse bola eu até desconfiava.

Dá licença? Vou me empanturrar lá na cozinha com toda a comida que eu for capaz de me arranjar. A gente se fala, muito em breve. Tenho muito pouco o que fazer nesses dias vindouros, estarei aí, pelas quebradas.

amo vocês. de verdade. amo assim, quase tudo.
ai, essa música do mick jagger. hide away. so sexy.
vou comer. se eu explodir por aí, juntem meus pedaços. Fechado? Assim sim. Tchau.





terça-feira, 21 de abril de 2009

Um ano e um dia

Este blog, saudosos convivas, está mais feliz em recebê-los hoje, do que jamais esteve. Trata-se da comemoração tardia de seu aniversário de um ano. É um passo pequeno para a humanidade, caríssimos, mas para esta orgulhosa anfitriã, é quase maior que as pernas. Nem em meu sonho mais selvagem imaginei que pudesse durar.
Vestimos black tie. Bebemos champagne. Brindamos à vida, às palavras, à rede mundial de computadores. Estamos verdadeiramente radiantes; eu e meu pequeno.
No fim das contas, estou aqui hoje, e por aqui zanzei durante um ano, porque acho que esse trocinho me importa. Ano passado, o ano mesmo - ora, vejam! - em que plantei as primeiras palavras neste latifúndio, virei quem eu sou. Aquela de 2008 sou eu. Apesar da obviedade aparente, não é sempre assim. Eu 2007 eu era outra coisa. De modo que em 2008, olhando para 2007, eu poderia - não disse, mas poderia- dizer: quem é ela? A mesmíssima carcaça, mas enfim.
A história (Heidegger? pergunta minha memória falha) que o pintor faz o quadro, ao mesmo tempo em que o quadro faz o pintor. Assim somos eu e este blog. Por isso o amo de sobremaneira e não posso abandoná-lo.

E sabe o que mais? Esse blog é culpa da Lau. Porque ela já deveria estar aqui, mas ela não chega, e eu fico enchendo a minha cabeça de caraminholas. As caraminholas tinham que sair da cabeça e parar em algum lugar. Eis este (mais este) diário virtual.

Fico pensando quantos romances já teria publicado, se tivesse entregue a escrita todas as horas em que me submeti a esperar pela Lau, aliás, prática ainda muito frequente, um ano depois. De qualquer jeito, obrigada querida, se não fosse tu, vai saber.

Escrevo de Capinzal hoje, no primeiro post, e na maioria dos outros, não sei porque. Em Florianópolis tenho tempo e um computador - não tão- melhor que este. Não sei.

Agora eu vou.
Cuidem-se.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

bu!

Tomei doses de vergonha na cara, de um copo de requeijão, e voltei.
Se lembram de mim, a Nataly de que lembram tinha vinte anos, é diferente desta, que já tem vinte e pouquinho. Mas não vou me apresentar. Por favor, com vinte e um, os amigos que tenho já me são suficientes. Um dia vou ser velha o suficiente, tão velha, que tudo que tenho me bastará.
Com vinte e um, sou mais honesta. Digo a verdade, doa a quem doer. (...) Mentira. Olha só... Nataly que é Nataly, com vinte e um, doze ou oitenta, não fala a verdade doa a quem doer. Qualquer um dos meus eus possíveis pra mim, mitigam as coisas. Toda Nataly possível também acha "mitigar" um verbo feião, e assim que se dá conta, de assalto, já está escrevendo "mitigar" aonde pode, porque fica com dó. Eu mais tenho dó, do que digo coisas doa a quem doer. "Lanche" é feia e bonita ao mesmo tempo, "mitigar", coitada. É a Macabéa das palavras. Deve ter até o nariz sujo, a pobre.
Desculpem a escrita preguiçosa, mas não escrevo exatamente porque quero, escrevo porque estou com sono, e um livro ou um filme não me servem. Porque tenho sono, mas uma certa energia, e esse blog é um fosso, e aí aqui eu posso ter esse sono que não é completamente sono, é sono, mas não está em paz. Poderia conversar com alguém, mas quando falo, me canso. E porque justifico tanto? Se alguém pagasse pra me ler... Chego lá.
Como estão as coisas por aqui? Em ordem?
Com vinte anos eu não tinha um projeto de TCC pra fazer. A saudade que tenho da aurora de
2009, meus queridos, vocês não podem imaginar. Mas vou bem. Apesar de acordar e dormir com um pica pau na cabeça: "tcc, tcc, tcc". Com vinte e um também me preocupo em ganhar dinheiro. Se meu negócio de vender colares e pulseiras de miçanga tivesse dado certo lá nos idos de 96, agora já tava aposentada, só vendo a vida da varanda. Meu espírito empreeendedor episódico, nunca mais se repetiu. Vou ser secretária. Levo jeito que só. Gosto de mecher em papel, e abusar de gerundismos no telefone. Segurar o telefone com os ombros enquanto revira pastas, um prazer como poucos na vida. Me contratem. Falo português fluente, inglês suficiente e francês, pero no mucho.
Esqueci de falar (...)
(agora serei honesta, doa a quem doer, acreditem). Quando lembrei do que ia esquecendo de mencionar, bati palma, de empolgação. Sabe como? Juro que fiz isso aqui, sozinha, na frente do computador. Com vinte e um anos sou capaz de cada coisa, que até deus e o diabo na terra do sol duvidam.
E agora esqueci de novo. Jóia ¬¬

Não sei mais o que digo. Tô com uma dor no braço, bixinha, deve ser a falta de sono.
E esse blog, que daqui a pouco tá de aniversário também? Desconfio que era isso que eu lembrei tão extasiada a ponto de bater uma palma sozinha. Gente, dos vinte e um, um esse blog esteve comigo. Quase morreu de inanição ano passado, mas não desistimos dele. Acabo voltando sempre, coisa louca.

E então aqui em Capinzal, tá frio. Sou feliz no começo do frio e no começo do calor. Depois enjoa, né não? Não? Sim? Vocês, que não se decidem!
Se com vinte e dois, esse blog ainda se mantiver minimamente atualizado, compro uma paçoca pra cada um. Se eu não estiver desempregada. Com vinte e dois, terei um blog atualizado e dinheiro.


E agora, chega. Eu volto. Prometo mais capricho em posts vindouros. ("vindouro" é feio também. Vou fazer poesia concreta só com palavra feia. Um dia, não hoje.)
Juro mesmo que tava com saudade.
Um beijo em cada buchecha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A Descoberta

Um frêmito de lucidez e eu caio da nuvem sem para-quedas. Não preciso de ajuda, agora posso me virar sozinha. Aprecio a sensibilidade e as idéias dos outros, mas depender deles é verdadeiramente enlouquecedor.
Essa lucidez é doce porque veio com o verão, iluminou minha cabecinha e deve ser abençoada. É bem isso, eu só achava que sabia. Subestimei meu amor pelas palavras, e errei feio. Cinema? Cinema, eu? Agora parece uma brincadeira divertida, que por um ou dois finais de semana me dariam prazer, mas nem de longe me fariam suportar o inefável dos dias. A jovem roteirista virou passado tão rápido e de uma hora pra outra, que confesso, estou assustada.
Descobri nessa história toda que sou mais tonta do que poderia supor. Como eu não enxerguei? O cinema começa no papel. A medida que vai saindo do papel é quando eu começo a gostar dele um pouco menos. Cada vez menos. Enquanto é só idéia e palavra me serve muito bem, depois me afasto.
Não abandono em definitivo a possibilidade de escrever roteiros aqui e acolá, mas se vivesse fazendo isso, vocês não conheceriam alguém mais frustrado. Achei que com o tempo eu não fosse mais ligar em escrever tudo daquele jeitão chatonildo: "Fulano acordou. Fumou um cigarro. Fulana lê o jornal", mas acontece que ainda me dói. Quero escrever bonito. Além do que, dramaturgia é coisa pra eu pensar quando estiver mais velha.
Antes eu achei que poderia escrever roteiros para cinema, depois eu achei que poderia escrever críticas de cinema, e durante esse tempo todo fui tolinha o suficiente em crer que o essencial era o cinema. Não era Nataly, não era! Se pudesse me encontrar comigo caloura, ouviria de mim mesma poucas e boas.
E vejam só do que ainda fui capaz! Prestei, passei e cursei três semestres de Filosofia. Esbanjo auto-conhecimento. Me sobra tanto, que penso até em vender a preços razoáveis.
Não acho que minhas duas empreitadas acadêmicas tenham sido um erro, e sei também que não existe uma faculdade que me faça mais escritora. Mas ah, como eu não percebi antes que era isso e só isso capaz de aquetar meus ânimos? Escrevo porque se não o fizer, morro. E sem cinema eu posso viver.
Dia dois recomeçam as aulas. Serei uma boa aluna e trarei sempre um sorriso no rosto, de quem colabora com os filmes dos amigos e escreve quando ninguém está olhando.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Transpiração

Ai. Pedra de gelo tem gosto de água da torneira. Mas é bom de morder mesmo assim. Mordi umas sete em seguida, não tenho dó. Acho que é ela quem deveria morder e judiar de mim, porque ela é transparente e eu não sou, e se isso é mérito, então ela é melhor que eu. E quem é melhor morde o que é pior. Sou pior que as sete pedrinhas de água. Suspeito não sejam bem sete, sejam mais ou menos sete, mas como gosto mais de literatura do que de verdade, minto e invento, e ainda fico com essa cara desavergonhada de quem comeu gelo.
Mas, a quem possa interessar, a fôrma que dá aos gelinhos sua quadradez está pior. Tudo bem, eu não sou transparente, atirem as pedras, mas pelo menos não sou laranja translúcido. Não consigo imaginar o que possa ser pior. E que desleixo com aquela forminha resignada... E exponho miudezas domésticas, e me envergonho, e me desculpo, porque minha cabeça esvaziou, e aí qualquer assunto é assunto.
Ai, que diazinho.
Será que sou cafajeste o suficiente pra colocar uma foto de um cubinho de gelo ali do lado, pra vocês pensarem que o texto é maior e que eu tenho muito o que dizer? Sou bem capaz.
Me despeço. Isso foi tudo de que foram capazes meus miolinhos. Também, comendo gelo... Se fosse feijão a história era outra.

Tchau moços e moças. Não desistam de mim.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Meu Carnaval

Minha música não vai tocar no carnaval, mas vou ser feliz mesmo assim. Ser feliz apesar de. Meu carnaval vai ser um filme do Kar-Wai. A música barata, e as coisas burras e abjetas que chegarem a meus ouvidos, morrerão ali, nos meus ouvidos, que padecerão, porque a minha cabeça só vai estar naquela hora e lugar mais ou menos, e não terá comunicação efetiva com as minhas partes. Eu recebo a cor, e a multidão, e viverei o presente como se já fosse memória.
Eu vou estar dançando e quem sabe caia no chão, porque me conheço e sei que não olho por onde ando. E aí eu vou rir, porque não há muito mais o que fazer, quando me encontro tímida e desajeitada. Vou beber três goles de alguma coisa, rir de novo, de quase tudo, mas vou guardar o juízo no bolso com o zíper bem fechado. Ninguém vai se preocupar comigo. Não se preocupem comigo, eu estarei bem; ouvindo a música que ensaiei para o meu carnaval. Meu carnaval é um filme editado.
Ninguém terá nome; pessoas e carros e chão batido são paisagem, livrar-los-ei da hierarquia dos dias normais, e mostrarei assim ao mundo que no meu carnaval até mesóclises são permitidas.
Pode ser que chova, e pode ser que a chuva gelada arrepie os pelos do braço. A chuva eu compartilharei com todos os corpos que transitarem pelo meu carnaval; ela será do carnaval de outrem tanto quanto é do meu.
Chegarei antes da manhãzinha, porque aprendi que se deixa uma festa enquanto ela ainda está nos seus melhores momentos. Não ignoro a manhã rosada e o que sobrou da euforia colorindo o asfalto, mas já quero estar em paz quando esse quadro se compor. Os sons da embriaguez lá embaixo na rua talvez perturbem meu sono.Me acomodo no travesseiro, troco do lado, e durmo novamente.
Acordo, lavo o rosto, tomo água, e vago pela casa.
Sinto-me cansada, mas escrevo.


A música do meu carnaval: when the man comes around - johnny cash.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Ode ao Morno

Verão, vou ser sincera e direta, coisa que faço em raras ocasiões, devido a minha personalidade polida e amedrontada: branco não te cai bem. Troca-te ou não saio contigo. Pois bem, agora deixe a sala, que eu e meu leitor temos assuntos a tratar.
Essa branquidão dos dias quentes! Como ela me encomoda, mesmo tímida, mesmo taciturna, mesmo branca. O vento vem e é alívio, mas se veio, já não é mais branco, é mais cinza e deus sabe como prefiro o cinza. Branco é inverno, casaco de lã e folha seca.
Com a cabeça pra fora da janela, pensava em brancos, e cinzas e azuis escuros. Pensava que ou o sol que racha ou a chuva que desmonta o arranjo do cabelo e pesa a calça jeans. E aí pensei que pensei uma coisa velha. Parece que agora, especialmente as meninotas, são todas assim. Todas tão intensas. Vaidade balofa. Não compro.
Leio por aí milhares de auto-descrições que, a primeira vista, só podem ter sido escritas por grandes espíritos. Todo mundo tem um sangue quente, uma vontade de viver absurda. Sentir na pele é pouco, agora queremos o sangue, as vísceras. "Ou me ama ou me odeia", "comigo é oito ou oitenta", "ou a chuva ou o sol". Mas que vidão não vivem esses todos que se descrevem como almas apaixonadas, impulsivas, geniais, hã? É bem bonito de ler, mas pouco crível. O que eu vejo é uma maioria insossa e conformada. Existe um grande mal entendido aí, ou as pessoas estão com sérios problemas de auto-conhecimento, ou é puro e deslavado embuste. Talvez um pouquinho dos dois.
Aqui já chove, mas se mantido o céu branco, faria um esforço sobre-humano pra me acostumar e gostar um pouquinho mais dele. Muito mais encantadora e misteriosa é essa branquidão, que não deixa ninguém saber se vai abrir sol, ou deixar cair a torrente. Passageiro, efêmero, fugidio.
Não sou mais aquela que começou a escrever esse texto.

p.s: Posso pedir uma coisa? Tenho muita curiosidade em saber quem está lendo isso aqui. Então proponho que quem passar por aqui, mesmo que acidentalmente, e pela primeira e talvez única vez, deixe um comentário. Não precisa comentar nada, só escreve "oi", "presente", sei lá. Pode ser? Já sabia mesmo que vocês que por aqui passam são uns queridões.

Beijos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

brain storm

Que gosto doce. De café doce e bolo de coco doce que eu, respectivamente, bebi e comi. Canto e balanço as pernas; não sei se estou no lugar certo na hora certa, ou por bem escrevo, ou bem canto e danço. Dançar sentada parece coisa de gente que se reprime ou é reprimida. Estico os braços cansada de tanto não fazer nada com eles e penso que coco é bom demais pra estar só um circunflexo longe de "cocô". Se coco parece tanto com merda então o mundo não está em ordem. "I'll be what I am, a solitary man...". Acho que voltei a escutar música de vez. De ser uma pessoa que dança, canta, e gosta de tocar e falar de música. Levei um susto quando percebi que passava os dias sem ouvir música, música de repente não me tocava mais. Devo me acomodar muito com a imagem que faço de mim mesma, a cada mudança é um choque. Me encontro hoje com uma das Natalys que deixei pelo caminho. Coitado do coco. Nessas regras novas da língua portuguesa, deveriam ter achado uma palavra nova pra coco. Não precisava nem ser nova, pode ser uma já usada, batidinha, mas bonitinha e branquinha feito coco. Estou agradecendo ao Neil Diamond em pensamento, porque ele está me deixando feliz. "Thank you, sir". Acho que estaria feliz com ou sem Neil. Ando feliz. Feliz e triste, porque se você está muito feliz, então sabe que a felicidade pode ser abalada, então ser feliz é ter medo. Se eu encontrasse o Neil Diamond, aposto que não teria coragem de falar nada, ou falaria alguma coisa estúpida, que pudesse soar espontânea mesmo sendo ensaiada que só ela. Mas seria estúpida, então não faz diferença se fosse espontânea ou não. Ando feliz demais com o que tenho, e quando não tenho nenhum problema, então começo a me preocupar com os outros. Egoísta a esse ponto; me envergonho. Acabou Neil Diamond e começou aquela do Ramones, da Nataly que tinha gostado de música desde sempre, e não conhecia a outra, que podia viver sem. Eu hoje conheço as duas, e diplomata que sou, assim de sopetão, sem ponderar a respeito, acho que gosto das duas igual. Eu colocaria coco em tudo. No macarrão, no chá, eu encheria de coco ralado o próprio coco que eu fosse comer. Que peninha sinto dele, quero cuidar. Tudo vai tão bem comigo, que não preciso mais me ocupar de mim mesma. Quero agora o bem dos outros. As pequenas misérias, os pequenos fracassos daqueles que gosto podem acabar comigo, sinto. O que será que o Neil Diamond está fazendo agora? Acho que nunca gostei tanto dos outros. Vou tomar café de novo. Desculpa Neil, mas Bob Dylan é Bob Dylan. "Your heart is like an ocean, misterious and dark". Quando eu não estava tão feliz, não era tão boazinha com os outros. Será que todo mundo é assim? Agora escuto Jackson's Five, e penso em ver novela com a minha mãe. E vou.


Ai, como é difícil escrever para um jornal! Lá eu tenho que interessar as pessoas. Não posso ficar falando eu eu eu eu. Não posso brincar de Clarice, Virgínia, Marguerite. Falando nisso, sou a maior putinha literária que vocês conhecem. Tô lendo a Marguerite Duras e já tento imitá-la. Até o Natal li Raul Pompéia, e, nem tenho a pretensão que alguém perceba qualquer semelhança, mas eu tava imitando também. É só o que faço; sou um aspirador em escala humana que suga os outros.

aaah, ganhei selos lindos! Posto na próxima vez em que der as caras. Tava com saudade.