segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vontade

Eu poderia e deveria dobrar as roupas que tirei do varal. Mas não o faço porque sempre me perco no meio do caminho, e o meio do caminho é aquele cheiro bom que as roupas tem. Enfio a cara no jeans se preciso for, só pra sentir o cheiro bom que as roupas tem. E por conta dessa minha perdição, também não durmo de cabelo molhado. Se por descuido essa situação se desenha, é já um dia perdido. Passarei o tempo que puder e um tantinho do que não puder, com a cabeça enfiada no travesseiro, porque sou de carne e osso e gosto de shampoo.
Enquanto isso, mantenho a montanha de roupas limpas a uma distância segura de mim.
Há tantas coisas por serem feitas, no mundo e nessa casa. Nada me interessa, assim, agora. E se escrevo me saboto, porque nem queria escrever tanto assim, mas escrevendo me autorizo a não fazer o que me espera para ser feito.
Devo ser esse tipo: o tipo que livra os ombros de fazer o que o mundo precisa que seja feito. E há tanta gente por aí carregando o peso invisível. São bonitos e corajosos. Mas deus sabe como a promessa da prerrogativa do erro é sedutora.
Não podendo ser os braços, ou as pernas, ou os olhos: quero ser a fita de cabelo do mundo. E não me deixe enganá-los, porque há sim, nisso tudo, um pouco de covardia e vaidade. E de cheiro de roupa recém tirada do varal.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Status Quo

Acho que no verão a gente não precisa um do outro, e deve ser por isso que só agora me dei conta de como parecem solitários aqueles dois grampos no varal. Se esse vento conseguisse com que um delizasse pra mais perto do outro, ou que cada um deslizasse sua parte, pra que pelo menos fossem sozinhos juntos, se assim persistissem suas naturezas, juro que não peço mais nada.
Faz frio e eles já estão velhos.

Ando com a séria suspeita de que eu seja feliz. O vendaval lá fora vira as coisas de cabeça pra baixo, leva para onde quer o que se deixa levar, e eu não poderia estar mais satisfeita em estar dentro e parada. Ficar parado é bom também, a gente não se perde por aí.

Sabem a respeito de quê também estou plena? A respeito da quantidade de feriados que temos em um ano. Acho que nem de mais, nem de menos. Para mim está okay. Hoje, por exemplo, é feriado, e não me atormento com isso, assim como também não me atormenta a constatação de que os outros seis dias da semana não foram/serão feriados. Mas e não era isso que eu dizia? Nesse momento da vida não preciso dar uma desbaratinada.


Uou uou iei iei, sem você não viverei.
Enquanto isso anoitece.


Tenham vocês a noite das suas vidas. Percam o juízo, as calças, desbaratinem se for o caso.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A Ordem do Dia

-Me diz: E existe escritor diletante? O rabo do meu olho pergunta.
-Deve existir, sim senhor. Tem de tudo nesse mundo.
Mas,
Informo a todos os presentes e futuros, que a partir de hoje integro resoluta a galera do Bandeira. "A poesia é um exercício diário". Oras, tu, passarinho, mais certo não poderia estar.
O que eu escrevo não se escreve, mas apostem dessa vez: um texto por dia. No mínimo, três por semana. Menos que isso, apresentar atestado médico na cordenação.

Sabe o que é mais fantástico e super-ultra-mega-legal e sensacional nessa história de escrever umas e outras? É que as pessoas lêem. E depois falam comigo: "li você". Ou me escrevem e eu me cobro: leio elas. Escrever tem me trazido pessoas e eu gosto de gentes em geral. Então vou pedir de novo, que eu sou atrevida mesmo: me digam quem são. Tá aí, en passant, coloque seu nome e diga a cidade de onde está falando. É só o que peço. Eu poderia estar matando e/ou roubando.

Até amanhã. AMANHÃ.

(Amanhã, ou depois de amanhã, prometo: não vou escrever sobre escrever. Tem tanta coisa no mundo, né? Amo-as menos, mas promessa é promessa)