terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A Descoberta

Um frêmito de lucidez e eu caio da nuvem sem para-quedas. Não preciso de ajuda, agora posso me virar sozinha. Aprecio a sensibilidade e as idéias dos outros, mas depender deles é verdadeiramente enlouquecedor.
Essa lucidez é doce porque veio com o verão, iluminou minha cabecinha e deve ser abençoada. É bem isso, eu só achava que sabia. Subestimei meu amor pelas palavras, e errei feio. Cinema? Cinema, eu? Agora parece uma brincadeira divertida, que por um ou dois finais de semana me dariam prazer, mas nem de longe me fariam suportar o inefável dos dias. A jovem roteirista virou passado tão rápido e de uma hora pra outra, que confesso, estou assustada.
Descobri nessa história toda que sou mais tonta do que poderia supor. Como eu não enxerguei? O cinema começa no papel. A medida que vai saindo do papel é quando eu começo a gostar dele um pouco menos. Cada vez menos. Enquanto é só idéia e palavra me serve muito bem, depois me afasto.
Não abandono em definitivo a possibilidade de escrever roteiros aqui e acolá, mas se vivesse fazendo isso, vocês não conheceriam alguém mais frustrado. Achei que com o tempo eu não fosse mais ligar em escrever tudo daquele jeitão chatonildo: "Fulano acordou. Fumou um cigarro. Fulana lê o jornal", mas acontece que ainda me dói. Quero escrever bonito. Além do que, dramaturgia é coisa pra eu pensar quando estiver mais velha.
Antes eu achei que poderia escrever roteiros para cinema, depois eu achei que poderia escrever críticas de cinema, e durante esse tempo todo fui tolinha o suficiente em crer que o essencial era o cinema. Não era Nataly, não era! Se pudesse me encontrar comigo caloura, ouviria de mim mesma poucas e boas.
E vejam só do que ainda fui capaz! Prestei, passei e cursei três semestres de Filosofia. Esbanjo auto-conhecimento. Me sobra tanto, que penso até em vender a preços razoáveis.
Não acho que minhas duas empreitadas acadêmicas tenham sido um erro, e sei também que não existe uma faculdade que me faça mais escritora. Mas ah, como eu não percebi antes que era isso e só isso capaz de aquetar meus ânimos? Escrevo porque se não o fizer, morro. E sem cinema eu posso viver.
Dia dois recomeçam as aulas. Serei uma boa aluna e trarei sempre um sorriso no rosto, de quem colabora com os filmes dos amigos e escreve quando ninguém está olhando.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Transpiração

Ai. Pedra de gelo tem gosto de água da torneira. Mas é bom de morder mesmo assim. Mordi umas sete em seguida, não tenho dó. Acho que é ela quem deveria morder e judiar de mim, porque ela é transparente e eu não sou, e se isso é mérito, então ela é melhor que eu. E quem é melhor morde o que é pior. Sou pior que as sete pedrinhas de água. Suspeito não sejam bem sete, sejam mais ou menos sete, mas como gosto mais de literatura do que de verdade, minto e invento, e ainda fico com essa cara desavergonhada de quem comeu gelo.
Mas, a quem possa interessar, a fôrma que dá aos gelinhos sua quadradez está pior. Tudo bem, eu não sou transparente, atirem as pedras, mas pelo menos não sou laranja translúcido. Não consigo imaginar o que possa ser pior. E que desleixo com aquela forminha resignada... E exponho miudezas domésticas, e me envergonho, e me desculpo, porque minha cabeça esvaziou, e aí qualquer assunto é assunto.
Ai, que diazinho.
Será que sou cafajeste o suficiente pra colocar uma foto de um cubinho de gelo ali do lado, pra vocês pensarem que o texto é maior e que eu tenho muito o que dizer? Sou bem capaz.
Me despeço. Isso foi tudo de que foram capazes meus miolinhos. Também, comendo gelo... Se fosse feijão a história era outra.

Tchau moços e moças. Não desistam de mim.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Meu Carnaval

Minha música não vai tocar no carnaval, mas vou ser feliz mesmo assim. Ser feliz apesar de. Meu carnaval vai ser um filme do Kar-Wai. A música barata, e as coisas burras e abjetas que chegarem a meus ouvidos, morrerão ali, nos meus ouvidos, que padecerão, porque a minha cabeça só vai estar naquela hora e lugar mais ou menos, e não terá comunicação efetiva com as minhas partes. Eu recebo a cor, e a multidão, e viverei o presente como se já fosse memória.
Eu vou estar dançando e quem sabe caia no chão, porque me conheço e sei que não olho por onde ando. E aí eu vou rir, porque não há muito mais o que fazer, quando me encontro tímida e desajeitada. Vou beber três goles de alguma coisa, rir de novo, de quase tudo, mas vou guardar o juízo no bolso com o zíper bem fechado. Ninguém vai se preocupar comigo. Não se preocupem comigo, eu estarei bem; ouvindo a música que ensaiei para o meu carnaval. Meu carnaval é um filme editado.
Ninguém terá nome; pessoas e carros e chão batido são paisagem, livrar-los-ei da hierarquia dos dias normais, e mostrarei assim ao mundo que no meu carnaval até mesóclises são permitidas.
Pode ser que chova, e pode ser que a chuva gelada arrepie os pelos do braço. A chuva eu compartilharei com todos os corpos que transitarem pelo meu carnaval; ela será do carnaval de outrem tanto quanto é do meu.
Chegarei antes da manhãzinha, porque aprendi que se deixa uma festa enquanto ela ainda está nos seus melhores momentos. Não ignoro a manhã rosada e o que sobrou da euforia colorindo o asfalto, mas já quero estar em paz quando esse quadro se compor. Os sons da embriaguez lá embaixo na rua talvez perturbem meu sono.Me acomodo no travesseiro, troco do lado, e durmo novamente.
Acordo, lavo o rosto, tomo água, e vago pela casa.
Sinto-me cansada, mas escrevo.


A música do meu carnaval: when the man comes around - johnny cash.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A Ode ao Morno

Verão, vou ser sincera e direta, coisa que faço em raras ocasiões, devido a minha personalidade polida e amedrontada: branco não te cai bem. Troca-te ou não saio contigo. Pois bem, agora deixe a sala, que eu e meu leitor temos assuntos a tratar.
Essa branquidão dos dias quentes! Como ela me encomoda, mesmo tímida, mesmo taciturna, mesmo branca. O vento vem e é alívio, mas se veio, já não é mais branco, é mais cinza e deus sabe como prefiro o cinza. Branco é inverno, casaco de lã e folha seca.
Com a cabeça pra fora da janela, pensava em brancos, e cinzas e azuis escuros. Pensava que ou o sol que racha ou a chuva que desmonta o arranjo do cabelo e pesa a calça jeans. E aí pensei que pensei uma coisa velha. Parece que agora, especialmente as meninotas, são todas assim. Todas tão intensas. Vaidade balofa. Não compro.
Leio por aí milhares de auto-descrições que, a primeira vista, só podem ter sido escritas por grandes espíritos. Todo mundo tem um sangue quente, uma vontade de viver absurda. Sentir na pele é pouco, agora queremos o sangue, as vísceras. "Ou me ama ou me odeia", "comigo é oito ou oitenta", "ou a chuva ou o sol". Mas que vidão não vivem esses todos que se descrevem como almas apaixonadas, impulsivas, geniais, hã? É bem bonito de ler, mas pouco crível. O que eu vejo é uma maioria insossa e conformada. Existe um grande mal entendido aí, ou as pessoas estão com sérios problemas de auto-conhecimento, ou é puro e deslavado embuste. Talvez um pouquinho dos dois.
Aqui já chove, mas se mantido o céu branco, faria um esforço sobre-humano pra me acostumar e gostar um pouquinho mais dele. Muito mais encantadora e misteriosa é essa branquidão, que não deixa ninguém saber se vai abrir sol, ou deixar cair a torrente. Passageiro, efêmero, fugidio.
Não sou mais aquela que começou a escrever esse texto.

p.s: Posso pedir uma coisa? Tenho muita curiosidade em saber quem está lendo isso aqui. Então proponho que quem passar por aqui, mesmo que acidentalmente, e pela primeira e talvez única vez, deixe um comentário. Não precisa comentar nada, só escreve "oi", "presente", sei lá. Pode ser? Já sabia mesmo que vocês que por aqui passam são uns queridões.

Beijos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

brain storm

Que gosto doce. De café doce e bolo de coco doce que eu, respectivamente, bebi e comi. Canto e balanço as pernas; não sei se estou no lugar certo na hora certa, ou por bem escrevo, ou bem canto e danço. Dançar sentada parece coisa de gente que se reprime ou é reprimida. Estico os braços cansada de tanto não fazer nada com eles e penso que coco é bom demais pra estar só um circunflexo longe de "cocô". Se coco parece tanto com merda então o mundo não está em ordem. "I'll be what I am, a solitary man...". Acho que voltei a escutar música de vez. De ser uma pessoa que dança, canta, e gosta de tocar e falar de música. Levei um susto quando percebi que passava os dias sem ouvir música, música de repente não me tocava mais. Devo me acomodar muito com a imagem que faço de mim mesma, a cada mudança é um choque. Me encontro hoje com uma das Natalys que deixei pelo caminho. Coitado do coco. Nessas regras novas da língua portuguesa, deveriam ter achado uma palavra nova pra coco. Não precisava nem ser nova, pode ser uma já usada, batidinha, mas bonitinha e branquinha feito coco. Estou agradecendo ao Neil Diamond em pensamento, porque ele está me deixando feliz. "Thank you, sir". Acho que estaria feliz com ou sem Neil. Ando feliz. Feliz e triste, porque se você está muito feliz, então sabe que a felicidade pode ser abalada, então ser feliz é ter medo. Se eu encontrasse o Neil Diamond, aposto que não teria coragem de falar nada, ou falaria alguma coisa estúpida, que pudesse soar espontânea mesmo sendo ensaiada que só ela. Mas seria estúpida, então não faz diferença se fosse espontânea ou não. Ando feliz demais com o que tenho, e quando não tenho nenhum problema, então começo a me preocupar com os outros. Egoísta a esse ponto; me envergonho. Acabou Neil Diamond e começou aquela do Ramones, da Nataly que tinha gostado de música desde sempre, e não conhecia a outra, que podia viver sem. Eu hoje conheço as duas, e diplomata que sou, assim de sopetão, sem ponderar a respeito, acho que gosto das duas igual. Eu colocaria coco em tudo. No macarrão, no chá, eu encheria de coco ralado o próprio coco que eu fosse comer. Que peninha sinto dele, quero cuidar. Tudo vai tão bem comigo, que não preciso mais me ocupar de mim mesma. Quero agora o bem dos outros. As pequenas misérias, os pequenos fracassos daqueles que gosto podem acabar comigo, sinto. O que será que o Neil Diamond está fazendo agora? Acho que nunca gostei tanto dos outros. Vou tomar café de novo. Desculpa Neil, mas Bob Dylan é Bob Dylan. "Your heart is like an ocean, misterious and dark". Quando eu não estava tão feliz, não era tão boazinha com os outros. Será que todo mundo é assim? Agora escuto Jackson's Five, e penso em ver novela com a minha mãe. E vou.


Ai, como é difícil escrever para um jornal! Lá eu tenho que interessar as pessoas. Não posso ficar falando eu eu eu eu. Não posso brincar de Clarice, Virgínia, Marguerite. Falando nisso, sou a maior putinha literária que vocês conhecem. Tô lendo a Marguerite Duras e já tento imitá-la. Até o Natal li Raul Pompéia, e, nem tenho a pretensão que alguém perceba qualquer semelhança, mas eu tava imitando também. É só o que faço; sou um aspirador em escala humana que suga os outros.

aaah, ganhei selos lindos! Posto na próxima vez em que der as caras. Tava com saudade.