
Chovia, mais uma vez. Daqui a pouco não é mais necessário avisar. Chove sempre. Hoje (chove) andei (chove) pela rua (chove). Quando andei e quando escrevo (chove). As palavras são chuva fina e é preciso uma miríade delas pra de fato se molhar. Se o que se quer é se molhar, porque não raro encontro um e outro que escolhe passa-tempo alternativo: esperar passar. Mas há uma verdade que estilhaça: a gente nunca só espera passar. Chove na espera como chove na rua em que andei, e hoje, e sempre.
Então o que temos é que chovia (e que choveu, e que chove), o que não confere nada de extraordinário ao que pretendo relatar, já que, conforme subescrito, só o que esse céu faz é chover (ontem, e hoje, e sempre). (E aqui). Chovia, mas não só chovia como também era fim de julho. Eis que algo finalmente, porque, hão de concordar, nem sempre é fim de julho. Consigo vislumbrar até começos de julhos, se forçar um pouco. E sei que existem meses que não são julho, mas anda difícil acreditar em outros tempos que não esses.
Aprendi jovem: nem tudo precisa de tempo e espaço. Essas minhas coisas precisam, por exemplo, só de tempo. Onde chove e é quase outro mês. Se esse fim salvaguardasse embaixo do braço uma promessa! Mas acho que é só fim mesmo, e o começo só começa quando começa.
(Um sobressalto de lucidez manifesto em parágrafo próximo:)
"Peremptório" e "Peripatético" são verdadeiras enxurradas. Queiram me desculpar. A errata: Palavras não são sempre chuvas finas. São todas tempestades em pontencial. Corre a boca pequena, nada assim oficial, de que algumas até ventam. Se pedirem, não fui eu quem falei. Segredo nosso.
Essa chuva esvazia, não esvazia? Se não fizesse tanto frio nessa cidade. Vejo os rostos na rua e sei que compartilhamos algo desolador: fomos todos obrigados a ver o cinza de todas as coisas. E ao ver o cinza, às vezes é melhor fechar os olhos. Não condeno.
Ao fim e ao cabo, fico com nada. E vos deixo com nada. A "coisa" que eu prentendia relatar não precisa de espaço, e agora enxergo: nem mesmo a própria coisa é necessária. Só precisava de tempo. Só era tempo.
Chove, ainda.